sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Sons de outras línguas

Sons que não existem no Português

Muitos dos sons que existem em outros idiomas não existem no Português (sobretudo no padrão brasileiro) ou existem em outras posições. Alguns exemplos: 

Inglês

θ: O famoso som do 'TH'. Não o temos em Português. Tendemos a substituílo por s ou t

 ð: Uma outra variação do "som de TH" que também não existe em Português.

p - b - t - d - k - g - f - v - m - n e alguns outros consoantais: Todos esses sons existem no Português, mas em posições diferentes das que ocorrem em Inglês. Em Português, eles geralmente aparecem antes de alguma vogal ou (no caso do [m] e [n]) são substituídos por vogais nasais, coisa que não ocorre no Inglês. Quando não há uma vogal após um desses sons (exceto [m] e [n]), tendemos a acresentar um [ɪ] (como visto no post anterior) exs: map, cab, cat, dad, work, tag, thief e of pronunciamos, respectivamente, /mépi/, /kébi/, /kéti/, /dédi/, /uôrki/, /tégui/, /"sífi"/ e /ófi/

Espanhol 
 θ: O mesmo som o 'TH' do Inglês, que ocorre na variante padrão do Espanhol Europeu (Espanha).

a - e - i - o - u: Por padrão esses são os cinco únicos sons de vogal em Espanhol. Todos eles existem em Português, mas o Português conta ainda com mais dez sons de vogal, no total são 3 sons para cada vogal (logo, se encontram em posições diferentes em relação às do Espanhol):
A: a  ə  ã
E: e  ɛ  ẽ
I: i  ɪ  ĩ
O: o  ɔ  õ
U:  u  ʊ  ũ

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Preste Atenção ao Escutar Palavras no Novo Idioma

Um dos primeiros passos pra você que quer aprender uma nova língua é ter um contato com o idioma. Se quer aprender uma língua que não é falada na comunidade onde vive, você pode utilizar recursos na internet, se inscrever em uma escola de línguas, ouvir músicas, ver filmes, conversar com estrangeiros...

Você deve aguçar a sua percepção auditiva para a nova língua. Os sons usados no português nem sempre são iguais aos usados nos outros idiomas. Há diferenças de sons até mesmo dentro dos vários sotaques brasileiros (vide um carioca pronunciando, por exemplo, "PORTAS" ( ['pɔxtaʃ] ), com um "S" chiado (/pórrtax/) em comparação a um paulistano dizendo essa palavra: ['pɔɾtas] (/pórtasss/).

Em outras línguas a diferença geralmente é maior. Existem sons iguais, sons parecidos e sons completamente diferentes. Diante de sons que não estamos acostumados a ouvir (ou ouvimos em posições diferentes dentro das palavras do português que usamos) muitas vezes o nosso cérebro tende a aproximar o novo som a um som já conhecido (ou uma posição ou formação mais familiar). Como assim? Vamos usar como exemplo as seguintes palavras em inglês:

BEACH
BITCH
BIT

É extramamente comum (e normal) que um falante brasileiro que esteja no início do seu aprendizado da Língua Inglesa pronuncie essas três palavras da mesma maneira: BÍTI, BÍTI e BÍTI (foneticamente transcrito: ['bitʃɪ] - para uma pronúncia com características de um falante do Sudeste brasileiro).

Para um americano, britânico, australiano (etc) essas palavras não têm a mesma pronúncia e é fortemente provável que não haja confusão entre elas. Então por que nós brasileiros nem sempre conseguimos diferenciá-las? Vamos analisá-las uma a uma: 

BEACH: É a que mais se aproxima da pronúncia de "BÍTI" citada acima ( ['bitʃɪ]). BEACH transcrita foneticamente é [biːtʃ]. A diferença está no fato de, na "pronúncia brasileira", nós não prolongarmos o "[i]" e acrescentarmos um "[ɪ]" ao final.

Em geral, no português (salvo exceções) nós só pronunciamos (dentre os sons consonantais) como último som de uma palavra o "R" e o "S" (são dois arquifonemas que representam os sons [ɾ] e [s]*). E assimilamos o som do CH de BEACH ao som do TI (tʃɪ) em português. Logo, tendemos a acrescentar uma vogal lá no final da palavra, neste caso: a vogal "[ɪ]". Outros exemplos recorrentes desse caso são a pronúncia que temos de "Facebook" e a pronúncia de "Blog": não pronunciamos "Facebook" com um "[k]" no final (com um K "seco"), nem "Blog" com som de "[g]" no final. Tendemos a acrescentar uma vogal "[ɪ]": /feicibúki/ e /blógui/. Está aí o motivo do "izinho" quando dizemos "beach".



 BITCH: Transcrita foneticamente temos: [bɪtʃ]. Fora o fato do  acréscimo de uma vogal no final da palavra (que está explicado lá em cima), a "pronúncia brasileira" ( ['bitʃɪ]) se justifica pela distinção que fazemos no português (brasileiro) entre os fonemas [i] e [ɪ]: quando se trata de uma sílaba forte (tônica), nossa pronúncia se utiliza do fonema [i] ao invés do fonema [ɪ]. Portanto, em BITCH, a sílaba tônica é a primeira, daí nossa tendência brasileira de utilizar o [i] ao invés do [ɪ].

BIT: Sua transcrição fonética é [bɪt], entram em cena novamente a tendência de pôr uma vogal no final e o uso do [i] por ser a sílaba tônica.

O cérebro de quem não está familiarizado com os sons (e suas ocorrências) da Língua Inglesa então, através de um fenômeno chamado "Sound Mapping", tende dar a impressão de ouvir, nos três casos, a forma "BÍTI" ( ['bitʃɪ]).

Pode ocorrer também nas palavras em outros idiomas a presença de algum som que não temos no nosso português... Nos próximos posts, você encontrará alguns exemplos com outros idiomas e também alguns recursos que podemos utilizar para fugir das "tendências" de modificar os sons.

 * O exemplo foi simplificado, na realidade tais arquifonemas podem representar os fonemas [h], [ɦ], [x], [ɣ], [ɹ], [ɾ] e [r] (no caso do R) e [s], [ʃ], [z] e [ʒ] ( no caso do S)