Sabe-se que
o discurso é moldado em certas medidas de acordo com o meio em que circulará,
ou seja, encontramos diferenças em textos feitos para circularem em um portal
de notícias na internet, uma história em quadrinhos, uma pichação, um programa
de televisão, um blog, etc. As imagens que se relacionam a tais textos também
não estão livres de sofrerem mudanças, seja na forma, distribuição, quantidade
disponibilizada, de acordo com o meio em que circula.
Para exemplificar como o meio de
circulação interfere em como a imagem é disponibilizada e de que maneira esse
fato se dá, será feita aqui uma análise de um acontecimento específico: a posse
da atual presidente do Brasil, Dilma Rousseff, ocorrida em 1º de janeiro de
2011. Três meios/mídias, todas trabalhando como meio jornalístico, foram
selecionadas, a saber:
Meio impresso: Revista Época (Ed.
Globo) de janeiro de 2011.
Mídia de internet: Portal Terra.
Mídia televisiva: Jornal Nacional
(Rede Globo) do dia 1º de janeiro de 2011.
Revista Época
Em uma das
revistas semanais de maior circulação do Brasil, a Revista Época da editora
Globo, a reportagem sobre a cerimônia de posse de Dilma Rousseff se deu logo na
primeira edição de 2011. Catorze imagens (mais a imagem da capa) ilustram a
reportagem, onze delas precedem o texto escrito da matéria, sendo acompanhadas
apenas de legendas. Vejamos uma delas:
Com a
trégua dada pela chuva, Dilma e a filha, Paula, acenam para o público.
As imagens
contidas na revista ilustram o acontecimento, e as legendas que as acompanham
apenas narram o que já está explícito na imagem. Vejamos outro exemplo para ver
como se dá tal funcionamento:
De
mão dada com o vice, Michel Temer, Dilma sobe a rampa do Palácio do Planalto,
aguardada por Lula e a ex-primeira-dama Maria Letícia.
É
perceptível ao analisar as imagens, que, também por conter apenas 14 imagens
(mais capa), a revista em questão se contém em divulgar apenas o que é marcante
e recorrente em uma cerimônia de posse, não havendo registros (ao menos
divulgação, uma vez que as imagens divulgadas provavelmente foram selecionadas
dentre uma quantidade de imagens maior fotografadas) de todos os momentos da
cerimônia, mas sim daqueles já “cristalizados” e repetidos em cerimônias de tal
gênero (posse de presidente – do Brasil em específico). Para exemplificar o que
se quer dizer por imagens já “cristalizadas” em tal tipo de acontecimento,
vejamos as seguintes imagens comparadas com algumas das divuldagas pela Revista
Época:
Desfile de Dilma (foto da Revista
Época) e desfile de Fernando Henrique Cardoso (1995)
Desfile em carro aberto de Dilma
(foto da Revista Época), Lula (2003) e Fernando Henrique Cardoso (1995)
Passagem da faixa de Lula para
Dilma (foto da Revista Época), de Fernando Henrique para Lula e de Itamar para
Fernando Henrique.
Portal Terra
No portal
de internet Terra, no que se refere à cerimônia de posse de Dilma Rousseff, não
foram encontradas reportagens escritas, apenas reportagens com imagens,
acompanhadas de legendas. Setenta e três imagens foram distribuídas em formato
de thumbnail (“miniaturas expansíveis”) como se pode ver abaixo:
Encontramos um número
consideravelmente grande de imagens de momentos relacionados à posse, inclusive
algumas que não identificam de maneira objetiva que se trata de uma cerimônia
de posse de presidente eleito. Logo, o grande número de imagens, por ter
algumas que não são típicas de cerimônia de posse, pode causar problemas de
falta de objetividade e de identificação. Podemos ver isso em algumas das
imagens abaixo extraídas do conjunto de fotos disponibilizado pelo Terra:
Na imagem acima temos presentes o
presidente uruguaio, José Alberto Mujica, o político brasileiro Paulo Maluf e a
presidente eleita então, Dilma Rousseff. A nível de exemplificação, essas
imagens não denunciam prontamente que se trata de uma cerimônia de posse.
Jornal Nacional
As imagens divulgadas pelo Jornal
Nacional do dia primeiro de janeiro de 2011, dia da posse de Dilma, estão em
formato de video. As imagens falam por si mesmas, uma vez que há presença
também de som. Seu papel principal, contudo, é ilustrar o que é dito pela
repórter da matéria, a jornalista Delis Ortiz. Registra-se em imagens apenas o
que é marcante em um âmbito de notícia a ser divulgada sobre o futuro governo
que estava por vir. Foca-se naquilo que
se quer veicular. Foca-se mais no
discurso de posse, do que na cerimônia em si (troca de faixa, subida da rampa,
desfile em carro aberto, etc).
As imagens utilizadas mostram o
real, não são “arquivos” de video (gravações antigas). Mostra-se o aqui/ agora.
Pode-se ver presente também a objetividade, pois há cenas que dão destaque ao
acontecimento, acompanhadas de fala da repórter.
Não há preocupação em utilizar apenas
cenas “tradicionais” de posse, uma vez que o meio em que circulam é outro
(televisão), onde há recursos diferentes do meio impresso / internet (este
considerando o corpus utilizado do Portal Terra).
Quanto à distribuição da matéria no
decorrer da reportagem, é possível identificar os dois “esquemas”:
Repórter
diz X
Imagem
ilustra X ao mesmo tempoem que se dá a fala do jornalista
Repórter
diz X
Imagem
ilustra em seguida X
Conclusões
Em cada meio de divulgação
diferente, vamos encontrar uma distribuição e seleção de imagens diferentes.
Não só pelo interesse no que se quer divulgar, mas também pelo espaço
disponível para apresentação das imagens, há uma contenção e expansão
diferente.
No meio impresso, a partir da
revista analisada, há uma maior contenção de imagens, uma vez que há número
limitado de páginas a serem utilizadas. Logo, faz-se utilização de imagens mais
marcantes e de pronta identificação do que se quer divulgar na matéria.
Por outro lado, na internet, é
possível fazer uma “condensação” das imagens através de recursos como o
thumbnail, sendo, então, possível divulgar um maior número de imagens, uma vez
que elas não estarão lado a lado, ou uma abaixo da outra. Faz-se então uma
divulgação de imagens que vão além de mostrar o básico do acontecimento.
No meio televisivo, por estarem
acompanhadas de video, podendo então conter falas diretas dos pergonagens
envolvidos no acontecimento (Dilma Rousseff, no caso da presente análise), há
um maior efeito de real. É a própria Dilma que está lá falando, não sendo um
discurso reportado. Contudo as imagens são sempre acompanhadas da narração de
um jornalista, que vai simplesmente descrever as imagens que estão sendo
exibidas. No caso específico do Jornal Nacional, quis-se fazer um foco no
discurso da presidente eleita, mais do que na cerimônia da posse.
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