A prática da
leitura e da escrita é extremamente desagradável ao aluno em ambiente
escolar/acadêmico. Qual é a graça e a motivação que há em ler ou escrever algo
que vem da vontade do professor/do sistema de ensino e não da minha?
Nos primeiros anos Ensino
Fundamental é lugar comum a tarefa de produzir textos sobre como foram nossas
férias, sobre nossa família, historinhas inventadas. Lá no último ou nos dois
últimos anos do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, só há treinamento e
preparação para o vestibular: como dissertações, narrativas, resumos e
conclusões de obras clássicas da literatura (que para uma grande parcela dos
estudantes é mais cômodo copiar da internet e obter uma nota 10. Afinal, para
muitos alunos, tais leituras e produções são desagradáveis e para muitos
professores o processo de correção - ler, avaliar e comentar - o trabalho de
15, 30 ou 100 alunos também deve ser desagradável e cansativo).
Quando se chega ao nível superior, o
aluno se depara com gêneros textuais nunca vistos antes. Fichamentos, artigos,
monografias, TCC, resenhas, teses. Como
produzir textos desses gêneros? No desespero, o aluno sempre dá um jeito.
Quando se está na faculdade, o
processo de produção de textos funciona assim: o professor pede algum tipo de
texto (seja uma monografia, um fichamento, um artigo...) -> você faz ->
recebe uma nota -> põe o texto avaliado numa pasta e esquece/ joga a folha
fora.
Isso não é muito diferente do Ensino
Médio. Para maioria, os textos nada acrescentam. A escrita é limitada, não sai
para fora do papel, ou seja, acaba por não oferecer nada a mais. Não há como
haver motivação de escrita para um processo de produção de texto assim. Ora, se
um texto é escrito, ele deve ser lido e apreciado. Ter um visto ou um rabisco
do professor porque há uma palavra mal escrita, uma vírgula a mais ou um hífen
numa palavra que hoje se escreve junta não motiva ninguém a escrever. Isso pode
até dar uma ilusão ao aluno: já que o professor não "interage" com
seu texto, cria-se uma impressão que produzir um texto é algo simples. Não vai
ao conhecimento do aluno a impressão que a leitura do texto que produziu pode
causar, afinal ninguém leu aquele texto.
Ao começar a escrever um texto, não
temos em mente o texto todo, não dá para saber palavra por palavra que iremos
utilizar. A escrita molda as ideias que temos em mente, e as ideias que temos
em mente surgem e se modificam no decorrer da escrita. Logo, a escrita faz
surgir o novo e nos (re)organiza o pensamento.
O primeiro leitor de um texto deve
ser o próprio autor. E, obviamente, o texto não precisa chegar em seu último
ponto final para ser lido, pois, seu processo de produção exige formulações,
leituras, reformulações e releituras.
O que fazer para que o processo da escrita
não seja tão desagradável aos alunos? É preciso haver um desejo para se
escrever. O agradável é escrever sobre o que nos faz sentido, o que nos
acontece, o que tem relação com a nossa vida, o que nós já pensamos, propomos e
refletimos em algum momento da vida. É preciso que haja um fio nos ligando à
produção do texto: uma relação entre você e o texto.
Ler e reler o texto escrito é
fundamental se feito de uma maneira crítica: melhorar o que se pode melhorar,
reformular o que se deve reformular e sentir-nos orgulhosos daquilo que nos faz
pensar: "Poxa, eu fui capaz de escrever isso!".
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