O texto "A multifuncionalidade
do conectivo e" de Eduardo Penhavel apresenta as diversas funções
do conectivo e e como cada função se dá a partir do uso da língua, de
acordo com o contexto em que acontece. Vemos, logo, que se trata de um trabalho
voltado para a corrente Funcionalista.
As várias funções do conectivo, de
acordo com Penhavel, têm origem da análise da interação verbal. O aspecto da
interação verbal / interação social é característica do Funcionalismo, uma vez
que, para essa corrente, a linguagem não tem um fim em si mesmo. Há, pois, uma
intenção de levar em consideração a comunicabilidade que a língua reclama, onde
os indivíduos são ativos na comunicação, ocorrendo, então, a interação social
(entre falantes/usuários da língua)
Não é considerado apenas o nível
sintático para o desenvolvimento da descrição e análise. São incluídos também
os níveis pragmático e semântico. O pragmático se faz presente por que é nesse
nível onde se estruturam a semântica e a sintaxe, sendo a semântica uma ponte
que une a pragmática e a sintaxe. E se evidencia aí a passagem que há do
lexical para o discurso de um elemento (inicialmente) semântico, onde o ponto
de partida são, justamente, elementos de
certo valor semântico chegando ao uso textual e interativo, mostrando, então,
as diversas funções que pode desempenhar o elemento.
Diante da multiplicidade de funções
que pode desempenhar o conectivo em questão (sistematizado em três categorias: e-marcador
discursivo - articulação de unidades discursivas, e-coordenador -
coordenação de orações e e-coordenador - coordenação de termos) é
feita uma sistematização a partir da discursividade, ou seja, o sistema abrange
e depende do uso (da língua), não sendo encontrados encaixamentos pré-moldados
(típicos da corrente estruturalista), o que Penhavel condena:
"Além disso, a classe de
palavras tradicionalmente denominada conjunção bem como os mecanismos agrupados
sob o rótulo de marcadores discursivos não dispõem ainda (...) de definições e
delimitações satistatoriamente bem fundamentadas." (ESTUDOS LINGUÍSTICOS XXXV. Campinas: A
multifuncionalidade do conectivo e PENHAVEL, Eduardo)
Não há, segundo o autor, critérios
rígidos que determinem precisamente cada uma das diversas funções existentes. É
nessa situação que se evidencia a fluidez semântica, com valorização do papel
do contexto.
A sistematização delimita, então, as
unidades discursivas e estabelece relações funcionais entre elas.
A multifuncionalidade do conectivo
em estudo (e) vem do processo de discursivização, bem como cita Eduardo
Penhavel ao estudo de Martelotta, 1996,
onde "o elemento vai perdendo sentido referencial para assumir um conjunto
de funções não-discretas, voltadas para a viabilização do processo
discursivo."
A "criação" de marcadores
discursivos vem da necessidade do falantes de elementos que os auxiliem e
dirijam o fluxo na interação verbal/social na relação falante x ouvinte.
O Funcionalismo se fará presente
também ao haver relação entre a discursivização e a gramaticalização, fatos que
competem às investigações da corrente.
Um exemplo de como a língua é usada
(e organiza suas estruturas) a serviço dos objetivos e intenções do falante e,
a partir dessa organização, haver possibilidade de se chegar a uma ação
discursiva pode ser encontrado no seguinte trecho:
" (...) o
falante usa o conectivo para dar continuidade a um tópico interrompido momentaneamente."
De acordo com a teoria
funcionalidta, a atividade do discurso pressiona o sistema, havendo, assim, a
perda do valor semântico do elemento (conectivo e, no caso) para ser
encontrado nas funções discursivas. Tal fato pode ser verificado em:
" (...) o
que ocorre é uma diminuição da relevância do valor semântico no uso de e e uma intensificação da relevância da função
discursiva que esse significado pode assumir (o que se assemelha a uma
trajetória de discursivização)."
Considerações
Apenas no uso é que se consegue explicitar as
diferentes funções (coexistentes) que pode se aplicar a um dado elemento
semântico.
E é a corrente funcionalista que une
a língua em uso a uma estrutura/sistema/descrição, e o falante, por sua vez,
"seleciona" uma função, em detrimento da outra, de acordo com o
contexto e situações de uso, e de sua necessidade.
Para essa corrente, a estrutura da
língua reflete a estrutura da experiência. O Funcionalismo recupera, pois,
estudos na diacronia sem focar na história da lingua, mas mostra o
"caminho" / o "percurso" pelo qual a língua passou,
deixando evidente como as línguas mudam e evoluem.
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