Este ensaio pretende ser uma pequena
reflexão sobre o tratamento que se pode dar à exposição. A questão principal
aqui é a classificação da exposição como um gênero ou como um suporte, questão
esta que não tem uma resposta imediata e exige certas reflexões e observações
Trata-se apenas de algumas reflexões, sem uma resposta definitiva, o que pode
dar abertura para futuras pesquisas, pensamentos e reflexões sobre o assunto.
Antes
de começar a refletir sobre nosso tema central, gostaria de apresentar breves
explicações sobre alguns termos que serão de extrema importância ao longo deste
ensaio:
Gêneros e suportes
Todo
gênero textual tem um suporte, uma vez que eles precisam se materializar em
linguagem para ocorrerem, e são justamente nos suportes que eles se ancoram, se
fixam, se baseiam, se transportam, se mostram. Há uma estreita relação entre o
gênero e o suporte, um não pode ser indiferente ao outro.
Uma
característica fundamental dos gêneros é sua capacidade de se ancorarem em
diversos suportes, por exemplo uma carta pessoal pode se encontrar em uma folha
de papel com função exata de carta pessoal, mas também em um livro didático, em
um documento de um processo jurídico, em uma biografia, etc.
Texto
Considero que a classificação de um
texto como verbal ou não-verbal seja algo decisivo para nossa reflexão central.
Enquanto o primeiro necessita de linguagem verbal para ocorrer, utilizando-se
de aspectos da sintaxe e do léxico (em seus sentidos gramaticais) e tendo um
produtor, um receptor e suas condições de produção, recepção e circulação, o
segundo eu considero que deve ser entendido em um modo extremamente amplo, que
abranja tudo aquilo que transmite e transporta algum sentido e/ou uma ideologia
para seu receptor, tendo ou não um produtor. Mescla-se aí, então, vestígios da
ideia de signo, sendo, em certa medida, alguma coisa que existe para
representar outra coisa. Nessa noção, então, entrariam desde pinturas,
fotografias, esculturas, filmes, cores, tipos e estilos de peças de roupas,
cortes de cabelo, músicas, sons,gestos, olhares,até objetos e seres diversos,
desde que no contexto em que se encontrem transmitam algum sentido e/ou
ideologia, por exemplo um vaso de flores sobre um túmulo não pode ser apenas
considerado e recebido como “um vaso de flores sobre um túmulo”, uma vez que é
um objeto que transporta uma série de significados, sentidos e ideologias, ou
um leão que escapou do zoológico e está dentro de uma escola, não será apenas
“um leão que escapou do zoológico e está dentro de uma escola”, já que moverá
vários sentidos para os “receptores”(pessoas que verem, souberem da existência,
etc) deste ser vivo. Logo, considero aqui o texto com uma abrangência daquilo
que dá e faz sentido para quem o recebe, logo texto é qualquer material
semiótico.
Exposição
Precisei
adotar a definição de texto apresentada acima, justamente porque uma exposição
não se limita a expor gêneros textuais (sejam escritos ou orais). Não podemos
de forma alguma dizer que, por padrão, a exposição contém cartas pessoais,
reportagens, fábulas, biografias, receitas, entrevistas, entre outros gêneros
textuais. Uma exposição pode ir, e geralmente vai, muito além disso, não se
limitando também a textos imagéticos por exemplo. Logo, além de exposição de
gêneros textuais, digamos, clássicos (escritos e orais, e também já encaixo
aqui os imagéticos como pinturas, fotografias, etc), uma exposição pode conter
objetos e seres vivos ou não. Podemos ter então uma exposição de instrumentos
musicais, de objetos de alguma personalidade, de cães, de cavalos, de cartas,
de flores, do corpo de alguma personalidade (de um papa, de um presidente,
sendo uma exposição não temporária), de móveis antigos, de filmes, de discos, de
tudo um pouco e a lista é grande.
Darei classificações para a
exposição, neste ensaio, afim de ficarem mais claras as reflexões dadas mais
adiante. Classificarei, então, aqui a exposição em três tipos: temporária, fixa em lugar exclusivo e
fixa em lugar não exclusivo. Focarei aqui a reflexão sobre o primeiro e o
terceiro tipos, sem contudo deixar o segundo tipo completamente de lado, o motivo
disso será tratado mais adiante. Antes, porém, explico o que considero cada uma
delas. A exposição temporária, não
se fixa em um local e trata-se de uma exposição que terá uma duração finita,
como uma exposição de trabalhos de alunos no pátio ou em um mural de um
colégio, uma exposição temporária de obras de Tasila do Amaral em algum museu,
etc.O terceiro tipo, a exposição fixa em
lugar não exclusivo, trata-se como o próprio nome diz de uma exposição que
não é temporária, porém não possui um local (um prédio ou uma construção
dedicada exclusivamente a ela) próprio para ocorrer, como por exemplos os
quadros com as imagens dos governadores de São Paulo em uma das escadarias do
Palácio dos Bandeirantes, fotos do professores expostas no hall de um
departamento de uma universidade, etc. Nesses exemplos, nem o prédio sede do
governo de São Paulo, nem o departamento da universidade foram construídos
única e exlusivamente para tais exposições citadas. O segundo tipo, o menos
produtivo para este ensaio sobre exposições, a exposição fixa em lugar exclusivo é, ao contrário do terceiro tipo,
uma exposição fixa que possui um lugar (prédio ou alguma instalação
arquitetônica) próprio para sua existência. O motivo de este tipo não ser o meu foco para a reflexão
principal (se exposição é gênero ou suporte) é tão somente que este tipo de
exposição não pode ser considerado nem gênero e nem suporte, uma vez que já
afirmo aqui, sem muita demora, que se trata de umainstituição, esta por sua vez classificada como museu, bem como
Marcuschi o diz em seu ensaio “A Questão do Suporte dos Gêneros Textuais”: “[...] o museu não é um suporte, mas uma
instituição, assim como uma igreja, um quartel ou uma universidade [...]”.
Para essa classificação como uma instituição, considero a exposição fixa em
lugar exclusivo como algo que precisa existir obrigatoriamente para que exista
a instituição ‘museu’. Logo, não vejo esse tipo de exposição como algo único e
independente.
Afinal,
exposição: gênero ou suporte? – conclusões
Para explicar as
diversas funções que um gênero pode admitir de acordo com o suporte em que ele
ocorre, Marcuschi fala em “reversibilidade de funções”, exemplificando: uma
carta pessoal enquanto suportada em uma folha de papel, sendo uma carta pessoal
propriamente dita e uma carta pessoal suportada em um livro didático, ambas são
do gênero carta pessoal, contudo possuem funções diferentes, a primeira tem
função de carta, mas a segunda tem uma função que pode ser didática,
pedagógica.
A
exposição (a temporária e a fixa em lugar não exclusivo, como explicadas acima)
traz vários gêneros de textos (textos com a noção adotada acima), mas pode
trazer também vários suportes de textos, como livros, revistas, jornais, etc,
pode trazer ainda locais de armazenamento, como CD’s, discos, fitas, dentre
outros. Considero que tudo que seja possível de estar presente em uma exposição
passa por um processo, em certa medida, similar ao processo que apresenta
Marcuschi, que chamarei aqui de transfomação
em gênero, que vai tranformar tudo que está exposto, seja um gênero textual
(escrito ou oral), seja um gênero textual(com a definição de texto apresentada
neste ensaio), seja um local de armazenamento (CD’s, fitas, discos, etc) em
gênero, de modo específico no gênero peça
de exposição. Logo a exposição é um grande suporte que abarca o gênero peça
de exposição, seja ela um livro, um cão, um cavalo, uma máquina agrícola, um
painel, etc. O indivíduo que será parte do público desta exposição, ou seja, o
receptor, terá, então, uma relação diferente com a peça de exposição enquanto um gênero pertencente ao suporte
exposição, ou seja, em uma exposição de cães ou de livros por exemplo, a
relação do receptor com os cães e livros enquanto peças de exposição será, naturalmente, diferente da relação com um
cão ou livro presentes em sua casa, na rua, na sua escola, ou qualquer outro
lugar onde possa encontrá-los. É esse traço em comum da relação
com o receptor que fará com que exista esse gênero peça de exposição, que para se mostrar e se portar depende do
suporte exposição.
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