Identificação e reconhecimento de morfemas de línguas desconhecidas (como
africanas, ameríndias, crioulas, filipinas, etc)
Metodologias de análise que foram
utilizadas:
·
Segmentação
dos morfemas constituintes das formas linguísticas.
·
Definição
do número de morfemas utilizados para um determinado corpus apresentado.
·
Observação
da posição dos morfemas.
·
Observação
de regularidades e irregularidades quanto à posição.
·
Comparação
com a tradução em língua portuguesa.
·
Observação
das estruturas e regras de organização dos morfemas.
Através
da identificação e reconhecimento dos morfemas de outras línguas, é possível
comparar e fazer uma analogia em relação aos morfemas da língua portuguesa.
Durante a
análise da língua yagua, falada no Peru, foi observado que um único lexema pode
carregar, com seus diversos morfemas, significados que em língua portuguesa
teriam a dimensão de uma frase.
Na língua
portuguesa, os verbos podem trazer, além do morfema raíz, morfemas que indicam
modo e tempo verbais e morfemas que indicam informações de pessoa (primeira,
segunda ou terceira) e número (singular ou plural). Porém, algumas conjugações,
frequentemente, podem conter morfema zero no lugar do morfema modo-temporal ou
do morfema número-pessoal.
A língua
yagua apresenta morfemas com informações de pessoa, gênero e número, um
radical, indicação da já realização ou não de um feito e indicação temporal.
Exemplo:
TSANČARÚUYTSÍMÁA
(Ele já quis tecer há algum tempo)
Com a
análise dos demais lexemas apresentados no corpus, foi possível identificar,
observando a frequência, repetição e posição, cada morfema:
TSA - NČA - RÚUY - TSÍ - MÁA
Diferentemente
da língua portuguesa, o radical (acima em destaque) não aparece na posição de
primeiro morfema. Por exemplo, em "FALÁVAMOS",
observa-se o radical na primeira posição. Já em "TSA.NČA.RÚUY.TSÍ.MÁA",
o radical é precedido por um morfema (TSA) indicador de pessoa, número, gênero: terceira pessoa, singular e gênero
masculino, portanto, ELE.
O morfema
"TSA" da língua yagua traz consigo uma informação de ordem gramatical
que não se encontra, através de morfemas (no verbo), na língua portuguesa: o
gênero. Em um verbo em língua portuguesa, onde todos os morfemas são
preenchidos ou mesmo apresente morfema zero, não há fornecimento de informação
de gênero, sendo este extraído do contexto da sentença em que o verbo está
inserido. Exemplo: em "Falou ontem", não há como depreender
informação de gênero.
Em yagua,
o morfema raíz (NČA - "tecer") representa o verbo principal. Este,
como já citado, é precedido pelo morfema indicador de pessoa, número e gênero
(TSA - "ele") . No que se refere aos morfemas pós-fixados,
encontramos o morfema indicador do verbo não principal (RÚUY -
"querer"), morfema temporal (TSÍ - "há algum tempo") e
morfema indicador da já realização ou não de um feito (MÁA - "já").
Os
morfemas temporais na língua yagua não indicam o tempo verbal propriamente
dito, como ocorre em
português. Eles indicam, pois, o que em português só pode ser
representado por um advérbio (separado do lexema "verbo"). Eis dois
exemplos de morfemas temporais em yagua e suas respectivas traduções:
·
TSÍ - HÁ ALGUM TEMPO
·
HÁY - ONTEM
A
ausência de morfema temporal em yagua causa consequentemente a presença de um
morfema zero, representando tempo presente.
Também
representando o que em português seria indicado por um advérbio (no caso,
temporal), o morfema indicador da já realização ou não de um feito ocupa sempre
a última posição:
TSANČARÚUYTSÍMÁA
Sua
tradução é feita pelo advérbio temporal "já".
Quanto
à estrutura das posições dos morfemas em yagua, pode-se fazer um contraste
quanto às estruturas que ocorrem no português.
Observa-se
portanto que na língua yagua, falada no Peru, a estrutura é mais rígida por ser
uma língua de morfemas lexicais.
O tempo
verbal é indicado através de morfemas lexicais identificadores de tempo (máa:
ja, tsí: há algum tempo, háy: ontem). O sujeito, diferenciando gêneros
masculino e feminino, é pré-fixado ao radical.
Quanto ao
verbo auxiliar, há uma pós fixação em relação ao radical (verbo principal),
formando uma estrutura oposta à do português.
Para os
morfemas temporais, tsí e háy, são postos após o verbo principal ou (quando
houver) após o verbo não principal, podendo ou não serem os últimos morfemas,
já que aceitam morfemas após eles. Quanto ao morfema máa, há ocorrência apenas
na última posição, não aceitando morfemas após ele.
Nota-se,
então, que a posição que ocupam os morfemas nas línguas, suas frequências, bem
como o significado que eles representam (tempo; pessoa; número; infomações
exteriores à língua, no caso dos morfemas raíz; gênero, etc) são fatores
morfológicos essenciais para a identificação e o reconhecimento de morfemas em
línguas a serem analisadas.
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