domingo, 9 de novembro de 2014

Diferentes formas de circulação: Posse de Dilma Rousseff como presidente do Brasil


             Sabe-se que o discurso é moldado em certas medidas de acordo com o meio em que circulará, ou seja, encontramos diferenças em textos feitos para circularem em um portal de notícias na internet, uma história em quadrinhos, uma pichação, um programa de televisão, um blog, etc. As imagens que se relacionam a tais textos também não estão livres de sofrerem mudanças, seja na forma, distribuição, quantidade disponibilizada, de acordo com o meio em que circula.
            Para exemplificar como o meio de circulação interfere em como a imagem é disponibilizada e de que maneira esse fato se dá, será feita aqui uma análise de um acontecimento específico: a posse da atual presidente do Brasil, Dilma Rousseff, ocorrida em 1º de janeiro de 2011. Três meios/mídias, todas trabalhando como meio jornalístico, foram selecionadas, a saber:
            Meio impresso: Revista Época (Ed. Globo) de janeiro de 2011.
            Mídia de internet: Portal Terra.
            Mídia televisiva: Jornal Nacional (Rede Globo) do dia 1º de janeiro de 2011.

Revista Época
            Em uma das revistas semanais de maior circulação do Brasil, a Revista Época da editora Globo, a reportagem sobre a cerimônia de posse de Dilma Rousseff se deu logo na primeira edição de 2011. Catorze imagens (mais a imagem da capa) ilustram a reportagem, onze delas precedem o texto escrito da matéria, sendo acompanhadas apenas de legendas. Vejamos uma delas:

Com a trégua dada pela chuva, Dilma e a filha, Paula, acenam para o público.

                As imagens contidas na revista ilustram o acontecimento, e as legendas que as acompanham apenas narram o que já está explícito na imagem. Vejamos outro exemplo para ver como se dá tal funcionamento:

           
                De mão dada com o vice, Michel Temer, Dilma sobe a rampa do Palácio do Planalto, aguardada por Lula e a ex-primeira-dama Maria Letícia.

                É perceptível ao analisar as imagens, que, também por conter apenas 14 imagens (mais capa), a revista em questão se contém em divulgar apenas o que é marcante e recorrente em uma cerimônia de posse, não havendo registros (ao menos divulgação, uma vez que as imagens divulgadas provavelmente foram selecionadas dentre uma quantidade de imagens maior fotografadas) de todos os momentos da cerimônia, mas sim daqueles já “cristalizados” e repetidos em cerimônias de tal gênero (posse de presidente – do Brasil em específico). Para exemplificar o que se quer dizer por imagens já “cristalizadas” em tal tipo de acontecimento, vejamos as seguintes imagens comparadas com algumas das divuldagas pela Revista Época:

Desfile de Dilma (foto da Revista Época) e desfile de Fernando Henrique Cardoso (1995)

Desfile em carro aberto de Dilma (foto da Revista Época), Lula (2003) e Fernando Henrique Cardoso (1995)

Passagem da faixa de Lula para Dilma (foto da Revista Época), de Fernando Henrique para Lula e de Itamar para Fernando Henrique.

Portal Terra

            No portal de internet Terra, no que se refere à cerimônia de posse de Dilma Rousseff, não foram encontradas reportagens escritas, apenas reportagens com imagens, acompanhadas de legendas. Setenta e três imagens foram distribuídas em formato de thumbnail (“miniaturas expansíveis”) como se pode ver abaixo:

            Encontramos um número consideravelmente grande de imagens de momentos relacionados à posse, inclusive algumas que não identificam de maneira objetiva que se trata de uma cerimônia de posse de presidente eleito. Logo, o grande número de imagens, por ter algumas que não são típicas de cerimônia de posse, pode causar problemas de falta de objetividade e de identificação. Podemos ver isso em algumas das imagens abaixo extraídas do conjunto de fotos disponibilizado pelo Terra:

           
 Na imagem acima temos presentes o presidente uruguaio, José Alberto Mujica, o político brasileiro Paulo Maluf e a presidente eleita então, Dilma Rousseff. A nível de exemplificação, essas imagens não denunciam prontamente que se trata de uma cerimônia de posse.
Jornal Nacional
            As imagens divulgadas pelo Jornal Nacional do dia primeiro de janeiro de 2011, dia da posse de Dilma, estão em formato de video. As imagens falam por si mesmas, uma vez que há presença também de som. Seu papel principal, contudo, é ilustrar o que é dito pela repórter da matéria, a jornalista Delis Ortiz. Registra-se em imagens apenas o que é marcante em um âmbito de notícia a ser divulgada sobre o futuro governo que estava por vir.  Foca-se naquilo que se quer veicular. Foca-se mais no discurso de posse, do que na cerimônia em si (troca de faixa, subida da rampa, desfile em carro aberto, etc).
            As imagens utilizadas mostram o real, não são “arquivos” de video (gravações antigas). Mostra-se o aqui/ agora. Pode-se ver presente também a objetividade, pois há cenas que dão destaque ao acontecimento, acompanhadas de fala da repórter.
            Não há preocupação em utilizar apenas cenas “tradicionais” de posse, uma vez que o meio em que circulam é outro (televisão), onde há recursos diferentes do meio impresso / internet (este considerando o corpus utilizado do Portal Terra).
            Quanto à distribuição da matéria no decorrer da reportagem, é possível identificar  os dois “esquemas”:
  Repórter diz X
  Imagem ilustra X ao mesmo tempoem que se dá a fala do jornalista

  Repórter diz X
  Imagem ilustra em seguida X



Conclusões

            Em cada meio de divulgação diferente, vamos encontrar uma distribuição e seleção de imagens diferentes. Não só pelo interesse no que se quer divulgar, mas também pelo espaço disponível para apresentação das imagens, há uma contenção e expansão diferente.
            No meio impresso, a partir da revista analisada, há uma maior contenção de imagens, uma vez que há número limitado de páginas a serem utilizadas. Logo, faz-se utilização de imagens mais marcantes e de pronta identificação do que se quer divulgar na matéria.
            Por outro lado, na internet, é possível fazer uma “condensação” das imagens através de recursos como o thumbnail, sendo, então, possível divulgar um maior número de imagens, uma vez que elas não estarão lado a lado, ou uma abaixo da outra. Faz-se então uma divulgação de imagens que vão além de mostrar o básico do acontecimento.
            No meio televisivo, por estarem acompanhadas de video, podendo então conter falas diretas dos pergonagens envolvidos no acontecimento (Dilma Rousseff, no caso da presente análise), há um maior efeito de real. É a própria Dilma que está lá falando, não sendo um discurso reportado. Contudo as imagens são sempre acompanhadas da narração de um jornalista, que vai simplesmente descrever as imagens que estão sendo exibidas. No caso específico do Jornal Nacional, quis-se fazer um foco no discurso da presidente eleita, mais do que na cerimônia da posse.

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