domingo, 9 de novembro de 2014

Exposição: Suporte ou Gênero?



Este ensaio pretende ser uma pequena reflexão sobre o tratamento que se pode dar à exposição. A questão principal aqui é a classificação da exposição como um gênero ou como um suporte, questão esta que não tem uma resposta imediata e exige certas reflexões e observações Trata-se apenas de algumas reflexões, sem uma resposta definitiva, o que pode dar abertura para futuras pesquisas, pensamentos e reflexões sobre o assunto.
            Antes de começar a refletir sobre nosso tema central, gostaria de apresentar breves explicações sobre alguns termos que serão de extrema importância ao longo deste ensaio:
           
Gêneros e suportes
           
            Todo gênero textual tem um suporte, uma vez que eles precisam se materializar em linguagem para ocorrerem, e são justamente nos suportes que eles se ancoram, se fixam, se baseiam, se transportam, se mostram. Há uma estreita relação entre o gênero e o suporte, um não pode ser indiferente ao outro.
            Uma característica fundamental dos gêneros é sua capacidade de se ancorarem em diversos suportes, por exemplo uma carta pessoal pode se encontrar em uma folha de papel com função exata de carta pessoal, mas também em um livro didático, em um documento de um processo jurídico, em uma biografia, etc.

Texto
           
            Considero que a classificação de um texto como verbal ou não-verbal seja algo decisivo para nossa reflexão central. Enquanto o primeiro necessita de linguagem verbal para ocorrer, utilizando-se de aspectos da sintaxe e do léxico (em seus sentidos gramaticais) e tendo um produtor, um receptor e suas condições de produção, recepção e circulação, o segundo eu considero que deve ser entendido em um modo extremamente amplo, que abranja tudo aquilo que transmite e transporta algum sentido e/ou uma ideologia para seu receptor, tendo ou não um produtor. Mescla-se aí, então, vestígios da ideia de signo, sendo, em certa medida, alguma coisa que existe para representar outra coisa. Nessa noção, então, entrariam desde pinturas, fotografias, esculturas, filmes, cores, tipos e estilos de peças de roupas, cortes de cabelo, músicas, sons,gestos, olhares,até objetos e seres diversos, desde que no contexto em que se encontrem transmitam algum sentido e/ou ideologia, por exemplo um vaso de flores sobre um túmulo não pode ser apenas considerado e recebido como “um vaso de flores sobre um túmulo”, uma vez que é um objeto que transporta uma série de significados, sentidos e ideologias, ou um leão que escapou do zoológico e está dentro de uma escola, não será apenas “um leão que escapou do zoológico e está dentro de uma escola”, já que moverá vários sentidos para os “receptores”(pessoas que verem, souberem da existência, etc) deste ser vivo. Logo, considero aqui o texto com uma abrangência daquilo que dá e faz sentido para quem o recebe, logo texto é qualquer material semiótico.
Exposição
            Precisei adotar a definição de texto apresentada acima, justamente porque uma exposição não se limita a expor gêneros textuais (sejam escritos ou orais). Não podemos de forma alguma dizer que, por padrão, a exposição contém cartas pessoais, reportagens, fábulas, biografias, receitas, entrevistas, entre outros gêneros textuais. Uma exposição pode ir, e geralmente vai, muito além disso, não se limitando também a textos imagéticos por exemplo. Logo, além de exposição de gêneros textuais, digamos, clássicos (escritos e orais, e também já encaixo aqui os imagéticos como pinturas, fotografias, etc), uma exposição pode conter objetos e seres vivos ou não. Podemos ter então uma exposição de instrumentos musicais, de objetos de alguma personalidade, de cães, de cavalos, de cartas, de flores, do corpo de alguma personalidade (de um papa, de um presidente, sendo uma exposição não temporária), de móveis antigos, de filmes, de discos, de tudo um pouco e a lista é grande.
            Darei classificações para a exposição, neste ensaio, afim de ficarem mais claras as reflexões dadas mais adiante. Classificarei, então, aqui a exposição em três tipos: temporária, fixa em lugar exclusivo e fixa em lugar não exclusivo. Focarei aqui a reflexão sobre o primeiro e o terceiro tipos, sem contudo deixar o segundo tipo completamente de lado, o motivo disso será tratado mais adiante. Antes, porém, explico o que considero cada uma delas. A exposição temporária, não se fixa em um local e trata-se de uma exposição que terá uma duração finita, como uma exposição de trabalhos de alunos no pátio ou em um mural de um colégio, uma exposição temporária de obras de Tasila do Amaral em algum museu, etc.O terceiro tipo, a exposição fixa em lugar não exclusivo, trata-se como o próprio nome diz de uma exposição que não é temporária, porém não possui um local (um prédio ou uma construção dedicada exclusivamente a ela) próprio para ocorrer, como por exemplos os quadros com as imagens dos governadores de São Paulo em uma das escadarias do Palácio dos Bandeirantes, fotos do professores expostas no hall de um departamento de uma universidade, etc. Nesses exemplos, nem o prédio sede do governo de São Paulo, nem o departamento da universidade foram construídos única e exlusivamente para tais exposições citadas. O segundo tipo, o menos produtivo para este ensaio sobre exposições, a exposição fixa em lugar exclusivo é, ao contrário do terceiro tipo, uma exposição fixa que possui um lugar (prédio ou alguma instalação arquitetônica) próprio para sua existência. O motivo de este  tipo não ser o meu foco para a reflexão principal (se exposição é gênero ou suporte) é tão somente que este tipo de exposição não pode ser considerado nem gênero e nem suporte, uma vez que já afirmo aqui, sem muita demora, que se trata de umainstituição, esta por sua vez classificada como museu, bem como Marcuschi o diz em seu ensaio “A Questão do Suporte dos Gêneros Textuais”: “[...] o museu não é um suporte, mas uma instituição, assim como uma igreja, um quartel ou uma universidade [...]”. Para essa classificação como uma instituição, considero a exposição fixa em lugar exclusivo como algo que precisa existir obrigatoriamente para que exista a instituição ‘museu’. Logo, não vejo esse tipo de exposição como algo único e independente.

Afinal, exposição: gênero ou suporte? – conclusões

            Para explicar as diversas funções que um gênero pode admitir de acordo com o suporte em que ele ocorre, Marcuschi fala em “reversibilidade de funções”, exemplificando: uma carta pessoal enquanto suportada em uma folha de papel, sendo uma carta pessoal propriamente dita e uma carta pessoal suportada em um livro didático, ambas são do gênero carta pessoal, contudo possuem funções diferentes, a primeira tem função de carta, mas a segunda tem uma função que pode ser didática, pedagógica.
            A exposição (a temporária e a fixa em lugar não exclusivo, como explicadas acima) traz vários gêneros de textos (textos com a noção adotada acima), mas pode trazer também vários suportes de textos, como livros, revistas, jornais, etc, pode trazer ainda locais de armazenamento, como CD’s, discos, fitas, dentre outros. Considero que tudo que seja possível de estar presente em uma exposição passa por um processo, em certa medida, similar ao processo que apresenta Marcuschi, que chamarei aqui de transfomação em gênero, que vai tranformar tudo que está exposto, seja um gênero textual (escrito ou oral), seja um gênero textual(com a definição de texto apresentada neste ensaio), seja um local de armazenamento (CD’s, fitas, discos, etc) em gênero, de modo específico no gênero peça de exposição. Logo a exposição é um grande suporte que abarca o gênero peça de exposição, seja ela um livro, um cão, um cavalo, uma máquina agrícola, um painel, etc. O indivíduo que será parte do público desta exposição, ou seja, o receptor, terá, então, uma relação diferente com a peça de exposição enquanto um gênero pertencente ao suporte exposição, ou seja, em uma exposição de cães ou de livros por exemplo, a relação do receptor com os cães e livros enquanto peças de exposição será, naturalmente, diferente da relação com um cão ou livro presentes em sua casa, na rua, na sua escola, ou qualquer outro lugar onde possa encontrá-los. É esse traço em comum da relação com o receptor que fará com que exista esse gênero peça de exposição, que para se mostrar e se portar depende do suporte exposição.

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