domingo, 9 de novembro de 2014

Quando a "Produção de Texto" já não é mais chata.



           A prática da leitura e da escrita é extremamente desagradável ao aluno em ambiente escolar/acadêmico. Qual é a graça e a motivação que há em ler ou escrever algo que vem da vontade do professor/do sistema de ensino e não da minha?
            Nos primeiros anos Ensino Fundamental é lugar comum a tarefa de produzir textos sobre como foram nossas férias, sobre nossa família, historinhas inventadas. Lá no último ou nos dois últimos anos do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, só há treinamento e preparação para o vestibular: como dissertações, narrativas, resumos e conclusões de obras clássicas da literatura (que para uma grande parcela dos estudantes é mais cômodo copiar da internet e obter uma nota 10. Afinal, para muitos alunos, tais leituras e produções são desagradáveis e para muitos professores o processo de correção - ler, avaliar e comentar - o trabalho de 15, 30 ou 100 alunos também deve ser desagradável e cansativo).
            Quando se chega ao nível superior, o aluno se depara com gêneros textuais nunca vistos antes. Fichamentos, artigos, monografias, TCC, resenhas, teses.  Como produzir textos desses gêneros? No desespero, o aluno sempre dá um jeito.
            Quando se está na faculdade, o processo de produção de textos funciona assim: o professor pede algum tipo de texto (seja uma monografia, um fichamento, um artigo...) -> você faz -> recebe uma nota -> põe o texto avaliado numa pasta e esquece/ joga a folha fora.
            Isso não é muito diferente do Ensino Médio. Para maioria, os textos nada acrescentam. A escrita é limitada, não sai para fora do papel, ou seja, acaba por não oferecer nada a mais. Não há como haver motivação de escrita para um processo de produção de texto assim. Ora, se um texto é escrito, ele deve ser lido e apreciado. Ter um visto ou um rabisco do professor porque há uma palavra mal escrita, uma vírgula a mais ou um hífen numa palavra que hoje se escreve junta não motiva ninguém a escrever. Isso pode até dar uma ilusão ao aluno: já que o professor não "interage" com seu texto, cria-se uma impressão que produzir um texto é algo simples. Não vai ao conhecimento do aluno a impressão que a leitura do texto que produziu pode causar, afinal ninguém leu aquele texto.
            Ao começar a escrever um texto, não temos em mente o texto todo, não dá para saber palavra por palavra que iremos utilizar. A escrita molda as ideias que temos em mente, e as ideias que temos em mente surgem e se modificam no decorrer da escrita. Logo, a escrita faz surgir o novo e nos (re)organiza o pensamento.
            O primeiro leitor de um texto deve ser o próprio autor. E, obviamente, o texto não precisa chegar em seu último ponto final para ser lido, pois, seu processo de produção exige formulações, leituras, reformulações e releituras.
            O que fazer para que o processo da escrita não seja tão desagradável aos alunos? É preciso haver um desejo para se escrever. O agradável é escrever sobre o que nos faz sentido, o que nos acontece, o que tem relação com a nossa vida, o que nós já pensamos, propomos e refletimos em algum momento da vida. É preciso que haja um fio nos ligando à produção do texto: uma relação entre você e o texto.
            Ler e reler o texto escrito é fundamental se feito de uma maneira crítica: melhorar o que se pode melhorar, reformular o que se deve reformular e sentir-nos orgulhosos daquilo que nos faz pensar: "Poxa, eu fui capaz de escrever isso!".

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