sábado, 8 de novembro de 2014

Identificação e reconhecimento de morfemas de línguas desconhecidas


              Identificação e reconhecimento de morfemas de línguas desconhecidas (como africanas, ameríndias, crioulas, filipinas, etc)

                Metodologias de análise que foram utilizadas:

·         Segmentação dos morfemas constituintes das formas linguísticas.
·         Definição do número de morfemas utilizados para um determinado corpus apresentado.
·         Observação da posição dos morfemas.
·         Observação de regularidades e irregularidades quanto à posição.
·         Comparação com a tradução em língua portuguesa.
·         Observação das estruturas e regras de organização dos morfemas.

        Através da identificação e reconhecimento dos morfemas de outras línguas, é possível comparar e fazer uma analogia em relação aos morfemas da língua portuguesa.
        Durante a análise da língua yagua, falada no Peru, foi observado que um único lexema pode carregar, com seus diversos morfemas, significados que em língua portuguesa teriam a dimensão de uma frase.
        Na língua portuguesa, os verbos podem trazer, além do morfema raíz, morfemas que indicam modo e tempo verbais e morfemas que indicam informações de pessoa (primeira, segunda ou terceira) e número (singular ou plural). Porém, algumas conjugações, frequentemente, podem conter morfema zero no lugar do morfema modo-temporal ou do morfema número-pessoal.
        A língua yagua apresenta morfemas com informações de pessoa, gênero e número, um radical, indicação da já realização ou não de um feito e indicação temporal.
        Exemplo:

        TSANČARÚUYTSÍMÁA (Ele já quis tecer há algum tempo)

        Com a análise dos demais lexemas apresentados no corpus, foi possível identificar, observando a frequência, repetição e posição, cada morfema:

TSA - NČA - RÚUY - TSÍ - MÁA

        Diferentemente da língua portuguesa, o radical (acima em destaque) não aparece na posição de primeiro morfema. Por exemplo, em "FALÁVAMOS", observa-se o radical na primeira posição. Já em "TSA.NČA.RÚUY.TSÍ.MÁA", o radical é precedido por um morfema (TSA) indicador de pessoa, número,  gênero: terceira pessoa, singular e gênero masculino, portanto, ELE.
        O morfema "TSA" da língua yagua traz consigo uma informação de ordem gramatical que não se encontra, através de morfemas (no verbo), na língua portuguesa: o gênero. Em um verbo em língua portuguesa, onde todos os morfemas são preenchidos ou mesmo apresente morfema zero, não há fornecimento de informação de gênero, sendo este extraído do contexto da sentença em que o verbo está inserido. Exemplo: em "Falou ontem", não há como depreender informação de gênero.
        Em yagua, o morfema raíz (NČA - "tecer") representa o verbo principal. Este, como já citado, é precedido pelo morfema indicador de pessoa, número e gênero (TSA - "ele") . No que se refere aos morfemas pós-fixados, encontramos o morfema indicador do verbo não principal (RÚUY - "querer"), morfema temporal (TSÍ - "há algum tempo") e morfema indicador da já realização ou não de um feito (MÁA - "já").
        Os morfemas temporais na língua yagua não indicam o tempo verbal propriamente dito, como ocorre em português. Eles indicam, pois, o que em português só pode ser representado por um advérbio (separado do lexema "verbo"). Eis dois exemplos de morfemas temporais em yagua e suas respectivas traduções:
       
·                TSÍ - HÁ ALGUM TEMPO
·                HÁY - ONTEM

               A ausência de morfema temporal em yagua causa consequentemente a presença de um morfema zero, representando tempo presente.
               Também representando o que em português seria indicado por um advérbio (no caso, temporal), o morfema indicador da já realização ou não de um feito ocupa sempre a última posição:
               TSANČARÚUYTSÍMÁA
               Sua tradução é feita pelo advérbio temporal "já".
               Quanto à estrutura das posições dos morfemas em yagua, pode-se fazer um contraste quanto às estruturas que ocorrem no português.
  
        Observa-se portanto que na língua yagua, falada no Peru, a estrutura é mais rígida por ser uma língua de morfemas lexicais.
        O tempo verbal é indicado através de morfemas lexicais identificadores de tempo (máa: ja, tsí: há algum tempo, háy: ontem). O sujeito, diferenciando gêneros masculino e feminino, é pré-fixado ao radical.
        Quanto ao verbo auxiliar, há uma pós fixação em relação ao radical (verbo principal), formando uma estrutura oposta à do português.
        Para os morfemas temporais, tsí e háy, são postos após o verbo principal ou (quando houver) após o verbo não principal, podendo ou não serem os últimos morfemas, já que aceitam morfemas após eles. Quanto ao morfema máa, há ocorrência apenas na última posição, não aceitando morfemas após ele.
        Nota-se, então, que a posição que ocupam os morfemas nas línguas, suas frequências, bem como o significado que eles representam (tempo; pessoa; número; infomações exteriores à língua, no caso dos morfemas raíz; gênero, etc) são fatores morfológicos essenciais para a identificação e o reconhecimento de morfemas em línguas a serem analisadas.

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